Caros seguidores
Abaixo coloco uma entrevista da
Luciana Leis.
Aproveito para indicar esse blog (muito interessante -
euvouengravidar) que foi criado recentemente por Daniela Almeida, uma
jornalista da saúde, que está tentando engravidar.
Que atire a primeira pedra a tentante que nuca ficou mal ao se
deparar com notícias de gravidez de amigos, parentes, colegas de trabalho. É
como se todos estivessem alcançando seus sonhos, seguindo com as suas vidas,
com as suas famílias, e nós estivéssemos ficando para trás. A gente se sente
esquecida pela vida (a cegonha, então, nem imagina sobre a nossa
existência). As grávidas formam uma espécie de sociedade secreta, um
ambiente onde somente as barrigudas são permitidas para tricotarem seus
casaquinhos e trocarem as fraldas. Como não se sentir excluída desse universo
de chupetas, papinhas e afins? Parece que chega um momento na vida social de um
casal que a criança vira um item obrigatório da estrutura familiar, afinal,
todos os amigos são pais. Como ir às festinhas formando uma família composta
por duas pessoas? Ué, somos os tios! Alguns são bem resolvidos com isso,
mas não é isso que a gente quer, certo? Dói, mas dói muito lá no fundo,
principalmente quando começam aquelas perguntinhas enrustidas querendo cutucar
os motivos pelos quais ainda não somos pais, ou frases de consolação, do tipo
“quando você desencanar, você engravida”. Fácil dizer isso quando a pessoa está
com seus lindos bebês no ventre ou no colo. Ou, pior, desconhece toda a nossa
caminhada de exames, tratamentos invasivos, resultados negativos, rios de
dinheiro gastos… Mas saiba, que isso tudo que você está lendo é normal. E
você não precisa sentir culpa por já ter tido sentimentos e pensamentos algumas
vezes nada cristãos em ocasiões em que se viu acuada ou sob pressão diante da
questão da sua maternidade. A psicóloga com enfoque no atendimento a casais com
dificuldades de gravidez, Luciana Leis, fala conosco sobre algumas das
dificuldades que enfrentamos em nosso cotidiano.
Por que a mulher sente tanta culpa quando não consegue
engravidar?
A mulher, na maioria das vezes, se responsabiliza pela gravidez,
já que é em seu corpo que tudo acontece. Percebo que mesmo nos casos onde a
causa de infertilidade se deve a um fator masculino, a mulher
costuma também se sentir um pouco responsável pelo problema. Além disso, a
sociedade também colabora por alimentar a crença de que se a gravidez não
acontece é porque tem algo de errado no corpo da mulher, o que não é verdade,
já que 40% das causas de infertilidade são masculinas, 40% femininas e 20% em
função a fatores combinados, ou seja, ambos apresentam alguma dificuldade em
seu corpo que dificulta a gravidez.
Em alguns casos, essa culpa vem também acompanhada de vergonha.
A mulher não consegue compartilhar o seu problema com amigos e familiares.
Quando o papo é gravidez, ela desvia do assunto, diz que ainda não chegou o
momento dela, ou que está focada no trabalho. Por que isso ocorre?
Isso ocorre porque a dificuldade de gravidez mexe com a
feminilidade da mulher, fazendo com que, em muitos momentos, se sinta inferior
às outras mulheres que conseguem engravidar. Tudo isso, porque a maternidade é
um importante referencial para a identidade feminina, algo que é passado de
forma muito valorizada ao longo das gerações. Além disso, desde muito cedo,
aprendemos que precisamos batalhar pelo que queremos e que nossa competência
garantirá o resultado. Percebo que algumas mulheres sentem-se, de certa
forma, incapazes de gerar, como se isso dependesse delas. Acredito ser
importante destacar, que fica muito complicado e pesado pensar dessa forma, já
que o momento da chegada de uma vida é algo muito maior que a relação sexual e
a funcionalidade do corpo; já que a vida e a morte são os grandes enigmas da
humanidade. Portanto, é necessário cautela para não nos apropriarmos do que não
é nosso.
Sabemos que existe uma cobrança da sociedade, inclusive, com uma
“propaganda subliminar” que incute na mente das mulheres que ela só será
completa se engravidar e se tornar mãe. Como lidar com esse turbilhão de
emoções, ao mesmo tempo em que é preciso administrar o problema fisiológico da
infertilidade?
A cobrança social costuma se somar à auto-cobrança da maioria
das mulheres que vivenciam essa dificuldade. Se não houvesse a cobrança
pessoal, a social não teria tanto impacto. Assim, trabalhar as auto-cobranças
internas pelo filho e assumir que nem todos os fatos dependem de nós, pode
auxiliar a diminuir essa pressão. Além disso, a psicoterapia pode auxiliar
bastante cada um a encontrar recursos internos emocionais, dentro de sua
história de vida, para lidar com essa situação.
É comum ficar triste e até com “raiva” quando temos a notícia de
que um parente ou amiga engravidou, enquanto nós continuamos na estaca zero,
sem perspectivas? Temos que nos envergonhar deste sentimento?
É super comum esse sentimento, e não há que se culpar em
senti-lo, não. A “inveja” das barrigas alheias é bem presente quando buscamos
engravidar, e o sentimento de frustração de ainda não estarmos em situação
semelhante à mulher que já engravidou faz com que possamos sentir isso. Acredito ser importante desmistificar que só podemos
sentir emoções positivas, já que emoções negativas, como a raiva e a inveja, fazem
parte de todo o ser humano. À medida que conseguimos lidar melhor com a
situação de dificuldade de gravidez, esses sentimentos também podem tornar-se
menos intensos. Portanto, não se cobrem ou torturem de sentirem isso, afinal,
são sentimentos naturais quando estamos vivenciando alguma contrariedade e
frustração.
Quais são as suas dicas para a mulher que está vivenciando algum
problema para engravidar, encontra-se introspectiva, sem saber como externar
seus sentimentos junto aos familiares ou amigos?
Buscar o apoio do marido, que também está passando por essa
dificuldade, pode auxiliar bastante, se esse se mostrar aberto a dividir o
problema. Participar de grupos de mulheres que enfrentam essa dificuldade a fim
de compartilhar esses sentimentos também pode ajudar. Além disso, a
psicoterapia individual costuma ser muito eficaz para auxiliar o enfrentamento
dessa situação.
Esse mesmo cenário pode acontecer junto ao marido ou namorado.
Às vezes o homem não vivencia essa angústia no mesmo nível que a mulher, mesmo
que o fator infértil seja dele. Como que a mulher pode demonstrar para ele o
quanto ela está angustiada, assustada, carente, sem causar um dano ainda maior?
O homem também costuma sofrer com esse problema, porém, sua
forma de lidar com o mesmo é diferente da mulher, que, geralmente, consegue
demonstrar mais suas emoções. Porém,
nem todos os homens estão dispostos a falar sobre o assunto, até mesmo porque é
algo que os faz sofrer também. Muitos, inclusive, reclamam que as mulheres só falam
e se queixam dessa dificuldade, o que acaba virando um entrave para a
comunicação do casal. Assim, cada mulher precisa sentir se há ou não abertura
para expressão desses sentimentos com o marido. Se houver, a dificuldade de
gravidez pode aumentar a cumplicidade e união do casal, pois ambos poderão ter
a oportunidade de se fortalecerem juntos. Porém, se não houver abertura do
marido, o ideal é que a mulher possa buscar outros meios para poder extravasar
suas emoções; daí a psicoterapia ou grupos de pessoas que enfrentam essa mesma
dificuldade, podem ajudar bastante.
Fonte: http://euvouengravidar.blogspot.com.br
Nenhum comentário:
Postar um comentário