Às vezes a resposta não é simples.
Às vezes essa é uma pergunta que você se faz todos os dias e anseia por tal resposta.
Você ainda não tem filhos?
As mulheres sem filhos são
uma minoria importante, que dobrou nos últimos 20 anos
“Você ainda não tem filhos?”. Esta é
uma pergunta que pode machucar. Ainda mais quando a mulher está com mais de 39
anos de idade e o interlocutor insiste em complementar: “Está esperando o
quê?”... Em muitos casos, muitas coisas: um parceiro fixo, uma doadora de
óvulos compatível, um bom resultado do espermograma do marido, a biópsia do seu
último aborto espontâneo...
“Você ainda não tem filhos?” é uma
pergunta simples, mas de difícil resposta para muitas das pacientes com as
quais converso, todos os dias. É surpreendente ouvir, por quantas vezes na
vida, elas passam por esta posição desconfortável: ter de explicar a um
familiar, um amigo ou até mesmo a um estranho o porquê elas não têm filhos.
Muitas prefeririam responder quanto
ganham, quantas vezes mantêm relações sexuais por mês ou em quem votaram.
Outras já têm respostas prontas: “Estou planejando”, “Ainda não”, “A vida não é
justa, nem lógica”, "Um em cada seis casais sofre de infertilidade",
“Pessoas irresponsáveis têm filhos, mas as pessoas sensatas, muitas vezes,
não”, ....
Tudo para evitar a inevitável
pergunta susbseqüente: “Por que não?”, que é ainda muito pior.
Fenômeno mundial
No mundo todo, cerca de 90 milhões
de casais estão tentando engravidar, mas cada tratamento tem apenas 20% de
chances de sucesso. O fato é que, se você é uma mulher, com bem mais de 30
anos, no imaginário popular, é normal que você tenha filhos. Mais do que
normal, esta é “a norma”.
Uma norma que precisa ser revista.
Até pouco tempo atrás, não ter filhos era uma ocorrência rara, que, fazia da
mulher sem filhos “um objeto de piedade ou desconfiança”.
Mas as coisas mudaram: as mulheres
sem filhos são uma minoria importante, que dobrou nos últimos 20 anos. Hoje,
uma em cada cinco mulheres britânicas não tem filhos. E segundo as previsões do
Office for National Statistics, quase um quarto das mulheres nascidas em
1973 não terá filhos até chegar ao final de sua vida reprodutiva: a idade de 45
anos. No grupo das britânicas mais graduadas, o número é maior: 40% não têm
filhos aos 35 anos, e um terço delas nunca terá filhos.
Por aqui, também temos números
interessantes também, que nos levarão ao mesmo caminho: a taxa de
fecundidade brasileira decresceu da média nacional de 6,3 filhos, em 1960, para
5,8 filhos em 1970, chegando ao patamar de 2,3 filhos, em 2000. A região
Sudeste foi a que registrou o menor índice de fecundidade, 2,1 filhos por
mulher, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE).
Respostas prontas
Apenas para registro, os motivos que
levam uma mulher a não ter filhos são muito complexos e variados: problemas de
saúde diversos, instabilidade financeira, falta de parceiro fixo, carreira,
câncer, viuvez precoce, um parceiro fixo que não deseja filhos.
É comum entre as pacientes que
atendo um ressentimento em relação a “ser uma mulher sem filhos”. Muitas dizem
que a sociedade as encara como se “algo estivesse faltando”, “como se elas
estivessem perdendo o melhor da vida”, “como se elas fossem um fracasso”...
Digo a elas que o olhar de censura ou de reprovação do outro é, porque, no
fundo, a infertilidade ainda incomoda e assusta a sociedade.
Assim, qual a melhor resposta quando
a questão é: “Você não tem filhos?”. É preciso pensar em algo, pois esta
pergunta sempre irá surgir, nos mais diversos lugares e nas mais diversas
ocasiões sociais.
Digo a cada uma das minhas pacientes
que a melhor resposta é aquela que não a magoa, uma resposta que fale das suas
opções e escolhas e que na hora de responder a deixe confortável. Esta resposta
pode mudar ao longo dos anos: “Não”, “Meu marido não quer”, “Nós não podemos
ter filhos”...
Talvez, nenhuma das respostas
mencionadas seja a ideal. Mas, não é preciso se preocupar, pois, com certeza,
ninguém é obrigado a falar sobre a contagem de esperma de seu marido ou sobre a
sua reserva ovariana, se não desejar fazer isto.
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